Hoje nosso quadro Guerreiro das Artes Marciais está pra lá de especial, até porque além de ser uma referencia no Karatê de nossa cidade e região o convidado é também uma Fera do Esporte Mourãoense. Sebastião Galdino, o “Tião” participa dos dois quadros e conta um pouco de sua história no Resenha CM.
Natural de Araruna do Sitio dos Galdinos, oitavo filho de um total de nove, Tião chegou em Campo Mourão ainda criança. “Aos seis anos de idade mudei para Campo Mourão, pelo pouco que me recordo mudamos próximo ao Batalhão (Tiro de Guerra). Aos oito anos fui morar próximo ao Lar dos Velhinhos (Frederico Ozanan), próximo a esta casa havia uma chácara que após a colheita de soja e trigo, eu e meus amigos brincávamos de futebol. Também joguei futebol no campo da Claurí, hoje onde é o Mufatto, e foi neste tempo que meu pai faleceu. Em seguida, retornamos para minha cidade natal e ainda em Araruna, aos treze anos tive meu primeiro registro em carteira na A. J. Rorato na função de Polidor de Pia de Cozinha”.
Uma série de problemas que Tião superou com batalhas do dia a dia, superando a perda de pessoas que amam e pelo amor da mãe. “No ano de 1981 minha mãe vendeu o sitio e comprou uma casa simples de madeira em Campo Mourão, no Jardim Tomazi, na Rua João Bueno nº. 60. E logo comecei a trabalhar na função de Serralheiro na Metalúrgica Guarani, onde era a antiga Zaeli, para completar a renda da minha mãe que era diarista. Porém, no ano seguinte, minha mãe faleceu, deixando dois filhos na adolescência, eu e a Marisa, minha irmã mais nova. Depois da morte de minha mãe, minha família se desestruturou. Nesta época meus dois irmãos já haviam falecido, o Osvaldo (segundo filho) que era especial, faleceu uma semana após meu pai e o José Francisco Galdino (Zézão) que era o quarto filho foi assassinado pouco antes do falecimento de minha mãe. Resumindo, apesar das dificuldades, tive na minha vida um pai rude, uma infância sem luxo e brinquedos, mas mesmo assim, fui feliz, pois, tive uma mãe amorosa”
As artes marciais, em especial o Karatê surgiu na vida de Sebastião aos 17 anos e durante a vida de atleta ele conquistou excelentes resultados. “Iniciei no Karatê com o professor Ademilton, na Academia “Oss De Karatê”, onde hoje é a Academia Athlétic Sport. Na condição de atleta participei de vários campeonatos Regionais, Estaduais e Brasileiro. Destaque para o 2º Lugar no Paranaense de 1991 em Curitiba e o 4º Lugar no Brasileiro de 2004 em Guaratuba”.
Após substituir o professor que foi embora para Curitiba, Tião iniciou um trabalho que mais tarde se tornaria referência que é ser professor. “Quando fui graduado faixa Marrom, meu professor voltou a morar em Curitiba fechando a Academia Oss de Karatê. E como eu era um dos alunos mais antigo e dedicado, os demais me fizeram a proposta para que eu ministrasse Karatê a eles que iriam treinar comigo. Então foi assim que iniciei como professor de Karatê na Academia Apolo do Professor Batata, Filho do seu Carlos, Massagista, onde hoje é a Gráfica Mourão. Após dois anos na faixa Marrom fui autorizado a usar a faixa Preta pelo professor Sposito – Professor do meu professor). Já na condição de faixa Preta, no ano de 1987 eu e outro aluno do professor Ademilton Milton Asseda inauguramos a Academia SHOTOKAM na Avenida Guilherme de Paula Xavier, próximo à Perimetral Tancredo Neves.
E por meio do Karatê Tião encontrou a esposa. “Para minha felicidade, no ano de 1988 entrou uma aluna, Ronise Cléia Minozzo, a qual está comigo até hoje na condição de aluna, esposa e companheira de trabalho. Resumindo, ela é o amor da minha vida”
Na oportunidade ele fala do incentivador e a grande inspiração no Karatê. “O que me fez entrar para o karatê foi quando fui convidado por um amigo a assistir o exame de faixa dele, aí foi amor à primeira vista, e este amigo foi o primeiro que me incentivou. E a Grande inspiração foi Sensei Julio Arai hoje com 83 anos, foi o Mestre que trouxe o Karatê Shotokam para o Estado do Paraná”.
Sebastião lembra sempre que gostava de treinar muito. “De competições participei poucas vezes, o que sempre gostei foram os treinamentos na academia, e não visando as competições. Quando você entra numa competição com vários atletas, e todos com condições de medalha, ai você se torna o campeão igual já consegui esse fato, você sobe no podium e recebe a medalha de ouro, ai você olha para o seu Sensei e ele com o olhar de orgulhoso de você, a sensação é indescritível. E nas derrotas não me sentia derrotado, pois nas derrotas você aprende com seus erros”.
As dificuldades financeiras para um atleta são as que mais atrapalham em sua carreira. “Para o atleta com certeza é o patrocínio, mas para os Projetos que desenvolvemos sempre tivemos parceiros”. Ele cita ainda a preparação para uma competição e os treinamentos realizados. “O treinamento tem que ser diário, estar preparado fisicamente e psicologicamente. As aulas de karatê no dia a dia já são uma preparação para as competições, aí quando você tem a data da competição, se começa os treinos específicos com mais base de entrada e saída de golpes de pernas e braços”.
O primeiro professor é a pessoa que Tião term grande admiração. “São vários mestres que tive a honra de ter treinado e continuo treinando, mas o meu ídolo vai ser sempre meu primeiro professor Admilto Soares”.
Um projeto de referência para Sebastião Galdino que tem contribuído para revelar atletas e principalmente formar cidadãos iniciou em 1997. “O Projeto Karatê nas Escolas surgiu a partir do Projeto Karatê Piá no Esporte que foi idealizado por Guilherme Carollo membro da Federação Paranaense de karatê-do tradicional com sede na cidade de Curitiba-Pr. Inicialmente o projeto foi implantado no ano 1997 em oito municípios do Estado do Paraná, numa ação articulada junto ao Governo do Estado do Paraná o qual manteve o projeto financeiramente até o ano de 2003. Tendo como objetivo formar cidadãos através da prática do karatê-dô, o qual abriu caminho para os projetos que se seguem”.
A partir daí Tião em conjunto com professores decidem formar Associação de Karatê. “ Este ato partiu mim que procurei a prefeitura Municipal de Campo Mourão oferecendo a modalidade em mais escolas municipais e que iniciando em 1997 até o ano de 1999 só era realizado na escola Florestan Fernandes (CAIC), mantido pelo Governo do Estado o Projeto Karatê Piá no Esporte, à ideia foi aceita e reuni outros professores de Karatê de Campo Mourão e fundamos a Associação, idealizando os projetos através da mesma na intenção de oportunizar a população infanto juvenil preferencialmente excluída dos mínimos sociais, a prática de recreação e atividades esportivas através da base filosófica do Karatê-dô Tradicional, estimulando assim o seu desenvolvimento de forma integral, numa ação sócio-educativa. Esta proposta está em consonância com os princípios contidos no Estatuto da Criança e do adolescente (ECA), que preconiza em seu artigo 4º “É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do Poder Público assegurar com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao respeito, à liberdade e a convivência familiar e comunitária”.
Em 2000 oitos escolas iniciaram com o Projeto e que chegou em 20 unidades escolares. “Amparado pela Prefeitura Municipal de Campo Mourão atendendo inicialmente 08 (oito) escolas, e até o ano de 2016 atendia todas escolas da rede municipal de ensino 20 no total. O karatê nos Centros de Integração foi implantado no ano de 2005, efeito esse obtido através dos resultados positivos da prática esportiva do karatê-dô, implantado no Projeto Karatê nas Escolas. Ambos os projetos funcionam em regime de contraturno escolar e atendia em média 100 (cem) crianças e adolescentes por estabelecimento. Consistindo numa ação conjunta que possibilita o atendimento de aproximadamente dois mil praticantes ativos envolvidos nesta prática”.
Desde 1997, mais de 30 mil crianças já foram beneficiadas pelo projeto, Tião cita como são as aulas “Se constituem de kihon, katá e Lemas do Karatê. O kihon compõe o conjunto de técnicas de defesa pessoal (fundamentos do Karatê); o katá designa os movimentos individuais simulando uma luta imaginária e os Lemas do Karatê que tem como princípio: Esforço para formação de um caráter saudável; Fidelidade para com o verdadeiro caminho da razão; Desenvolver a persistência e o esforço; Respeito acima de tudo; Conter o espírito de agressão destrutiva”.
No projeto são realizados exames de faixa e também festivais e campeonatos. “O exame de faixa é um requisito de avaliação, e necessário como motivação para permanência da criança e adolescente no projeto, uma vez realizado estimula e oportuniza o desenvolvimento dele no que tange ao aprendizado do conteúdo do Karatê, ocasião onde os estudantes demonstram o que aprenderam nas aulas. A Associação através dos Projetos de Karatê realiza anualmente 02 eventos do Festival “Nota 10” que acontece ao término do, 1º e 3º bimestre escolar. Este evento é a soma da prática do Karatê-dô e do desenvolvimento escolar, onde os participantes que se destacam por suas notas escolares concorrem a prêmios. Todos os participantes do evento recebem alimentação e premiação através de colaboradores”.
Além do esporte, o projeto também proporciona alegria, conhecimento e entretenimento as crianças. “Eu vejo como um trabalho prazeroso pois através das aulas do Projeto Karatê oferecemos uma alternativa positiva de ocupar o tempo ocioso de crianças e adolescentes com atividades esportivas e de lazer que proporcionaram o bem estar e melhora da autoestima, incentivando-as através da prática do Karatê Tradicional, a promoção da qualidade de vida e bem estar social, desenvolvimento cognitivo, contribuição no processo de concentração e memorização, e principalmente o respeito mútuo. Fazendo com que o aprendizado adquirido com a prática pedagógica do Karatê Tradicional ultrapassasse os muros das instituições parceiras e possibilitou a maioria de exercerem seus papéis de cidadãos ativos na sociedade”.
E qual é o sentimento de Sebastião Galdino ao ver alunos seus alunos se destacando em diversas áreas da sociedade. “Vejo com muita alegria, pois quando eram crianças tinham todo o futuro pela frente, e sempre frisamos que o futuro depende deles é só estudar que os resultados vem naturalmente”.
No final da resenha, Tião fala o que representa o que signifca o Karatê nas escolas e o seu grande sonho. “Para mim foi uma iniciativa que deu certo, mas o mérito são de todos os professores, diretoras de escolas, pais, comunidade e patrocinadores que sempre tiveram junto ao projeto. O objetivo do projeto Karatê nunca foi competitivo mas naturalmente no projeto surge alunos (a) com talento para competições, um sonho é construir um centro de excelência para treinar os alunos que se destacam nos projetos desenvolvidos pela Associação de Karatê”.
Fotos: Arquivo Pessoal Sebastião Galdino/ Irineu Ricardo dos Santos