Referência no Judô, Melchior 16 vezes melhor judoca do Paraná

O Judô mourãoense sempre foi referência e representou muito bem a cidade com grandes lutas, títulos e medalhas. E hoje no quadro Guerreiro das artes marciais a entrevista é com mais um dos grandes nomes da modalidade, 16 vezes campeão estadual, Melchior Gonçalves Moreira da Silva. Nesta resenha vai conhecer mais um pouco sobre o judô de Campo Mourão.

Campeonato Paranaense Juvenil B, 1995, Nova Esperança-PR

            A primeira experiência com o judô ocorreu aos oito anos de idade em 1989 e durou apenas um ano, retornando em definitivo aos tatames somente em 1992. “No primeiro momento, aos oito anos, foi por influência do filme Caratê Kid. Eu queria Caratê, mas como em Nova Londrina-PR, 10 mil habitantes na época, não tinha Caratê, meus pais me matricularam no Judô. Já aos 11 anos de idade voltei ao judô após assistir ao vivo na rede globo o judoca paulista Rogério Sampaio ser Campeão Olímpico em Barcelona 1992.

            A família sempre incentivou Melchior a prática do judô e a grande inspiração foi o campeão olímpico Rogerio Sampaio. “Minha Família. Pai Hortêncio, Mãe Teresinha, Irmã Andrea e Irmão Lucas. Tios, Tias, Primos e Primas que sempre me incentivaram muito.  A grande inspiração foi Rogério Sampaio. Por influência dele, até hoje mantenho vínculo com o judô”. 

Ginásio JK em Campo Mourão, seletiva para o campeonato brasileiro júnior, ano 2000, com a irmã Andrea e o irmão Lucas

            Melchior revela também os grandes ídolos da modalidade. “No Brasil Tiago Camilo, a nível internacional o grego Ilias liadis.”

            Em 1990 Melchior fez sua primeira luta em Maringá.  “Foi no ginásio Chico Neto em Maringá. Eu era faixa branca, trata-se de um festival para crianças e adolescentes. Quando recebi a medalha de prata fiquei surpreso e feliz. Não sabia que teria direito a medalha por ser faixa branca”.

            Oito anos depois veio a grande luta considerada a melhor por Melchior. “Foi em 1998 a final da categoria meio médio até 81Kg no Campeonato Paranaense Júnior, contra um judoca Londrinense que na época estava se destacando e era o franco favorito. Surpreendi e fui dominante na luta do início ao fim atacando sem parar. Venci por ippon com um golpe chamado te guruma. A queda foi tão potente e marcante ao ponto dos presentes no ginásio ecoarem em coro aquele  “uuulhhhhh!!!!!!” E depois vieram palmas. Inesquecível”.

            Melchior durante a resenha cita também um adversário carioca como o mais complicado que lutou e conta como foi a luta e a frustração gerada a partir dela “Sem sombra de dúvida foi o carioca Alessandro Bragança Merly da Universidade Gama Filha. A luta aconteceu no segundo semestre do ano 2000. Considero que naquele período eu alcancei o meu auge de nível físico e técnico, já era faixa preta há 2 anos, por tudo isso eu tinha grande expectativa de medalha. A luta contra o carioca foi logo a primeira da categoria peso médio até 90Kg no campeonato brasileiro júnior em Caldas Novas-GO. Me sentindo muito confiante, apliquei logo no início da luta um golpe de sacrifício chamado sumi gaeshi. Para não ser derrubado o carioca apoiou com a mão no tatame e já gritou de dor. Não sei se ele já estava lesionado ou se lesionou ali naquele momento. Na hora pensei, venci! Ele não vai conseguir continuar na luta!. Engano meu. Com os olhos cheios de lágrimas e expressão de dor ele voltou para luta e me atropelou. Me tirou para nada. Parecia um adulto contra um adolescente. O carioca Alessandro também venceu dominantemente as lutas seguintes e sagrou-se campeão Brasileiro mais uma vez naquele dia. Ou seja, no meu auge esportivo eu pareci um iniciante perante um atleta de efetivo nível elevado. Foi um choque de realidade, um balde de água fria no meu sonho de ser campeão brasileiro a aquela altura. A partir daquele momento voltei minha atenção à graduação, profissão e participação em campeonatos a nível estadual ”.

Equipe Mourãoense de judô 2012

            Um dos grandes nomes do Judô nacional e internacional fez parte do início da carreira judoística do Melchior. Trata-se do atleta Olímpico e Campeão Mundial de Judô Sênior, Luciano Correa. “Começamos a competir um contra o outro em 1995 em Porto Alegre, eu tinha quatorze, ele treze anos, na primeira oportunidade venci. A segunda vez foi na cidade de Natal em 1997, venci também. A última foi em 1998, mais uma vez Porto Alegre, nessa o Luciano venceu e nunca mais lutamos novamente”. Luciano seguiu evoluindo e chegou à seleção brasileira de judô no início dos anos 2000.

Em 2007 em seu auge, Luciano Correa sagrou-se campeão mundial no RJ em 2007. Eu, Melchior, estava lá assistindo. Já campeão, quando ele me avistou na fila para fotos e autógrafos, ele mandou um: “E aí cara!!” E fomos conversando rapidamente sobre nossos combates, falei com o Pai dele, o agradeci, parabenizei-o e nunca mais nos vimos pessoalmente. 

Melchior e Luciano Correa

            Melchior pode até não ter ganho o Campeonato Brasileiro de Judô, mas tornou-se uma das grandes referencias no Judô do estado. Dezesseis vezes campeão estadual no período de 1995 a 2015. Bronze no campeonato brasileiro juvenil B 1995, peso pesado, Porto Alegre-RS. Prata nos Jogos Abertos do Paraná, 2006, meio médio até 81Kg, Maringá.

            Em março de 2015 Melchior fez sua última competição vencendo o campeonato estadual sênior, categoria faixa preta peso meio pesado até 100Kg. Em 2017 o judoca teve uma grande inspiração para voltar a competir. “Meu filho Davi nasceu em fevereiro de 2017. Ele é um incentivo para que eu volte a competir. Quero que ele assista e tenha essa lembrança. Estou me preparando como posso desde setembro de 2019 para um dia poder lutar em competição de veteranos, porém, a pandemia atrapalhou os planos até o momento”

            Falando em preparação, Melchior fala da sua preparação para uma competição. “Treino de judô ao menos duas vezes por semana e treinos de apoio como musculação e corrida. Alimentação correta também é importantíssimo, embora esse tenha sido o ponto que mais falhei. Procurar um profissional em nutrição esportiva é fundamental para qualquer atleta competidor que quer evoluir no esporte. E antes de uma luta, me mantenho concentrado nos golpes que preciso aplicar considerando as características do adversário. Se é mais alto ou mais baixo, destro ou canhoto, golpes prediletos do adversário”.

Campeão Paranaense sênior, categoria faixa preta meio pesado até 100Kg

            Melchior faz avaliação do judô em Campo Mourão. “Graças ao ótimo trabalho dos Senseis Mourãoenses, o judô da cidade sempre teve bons praticantes. O grande obstáculo é que não há uma renovação consolidada do quadro competitivo de atletas. Quando chega na idade de 17 ou 18 anos, vários atletas param para não mais voltar, seja por motivo de trabalho, curso superior ou até mesmo formação de família”.

Melchior com o Filho

            A modalidade a nível nacional recebe críticas do judoca mourãoense. “ o Judo brasileiro está em crise! Depois de magnífica safra de atletas nascidos entre 1983 a 1992, dentre eles destacaram-se Tiago Camilo, João Derly, Luciano Correa, Mayra Aguiar, Sarah Menezes e Rafaela Silva, o judô brasileiro parou de renovar com a mesma qualidade. O Brasil era temido no judô. Hoje está em baixa em vista do passado”.

Sensei Babata nos Jogos Abertos 2014 Toledo

            Melchior ressalta a importância da modalidade para as crianças e cita os benefícios da modalidade. “Um magnífico esporte para crianças. Estou me referindo à formação de pessoas.  A modalidade traz para uma pessoa: saúde física, mental e espiritual. Os treinamentos, competições e as consequentes relações humanas positivas oferecem ao judoca praticante tais benefícios”

            Fechando nossa Resenha, Melchior cita a importância da modalidade. “O judô é parte integrante da minha personalidade. Muito do que faço ou deixo de fazer assertivamente tem influência dos princípios e aprendizados do judô. Para ser um judoca campeão, assim como em qualquer outro esporte, é imprescindível gostar do que faz. Disciplina e persistência completam o processo”