Neuropsicólogo e professor Frank Duarte fala sobre racismo no esporte

Racismo. Um tema muito triste e pesado, mas que é importante debater, principalmente sobre atos que aconteceram no esporte nos últimos anos. O Resenha CM abre uma série de reportagens para tratar o assunto que tem manchado com atos de torcedores e de alguns atletas o esporte em geral. O psicólogo e professor Frank Duarte fala sobre o tema hoje.
Frank inicia nossa resenha falando o que é o racismo na psicologia, seus efeitos e o comportamento humano. “Ao estudar o comportamento humano a psicologia busca compreender a causa e o resultado de comportamentos e da interação humana. Muitas respostas são encontradas no modo como cada sujeito vê o mundo e se relaciona com ele. A intolerância pela existência do outro faz com que gere resultados nocivos a este outro, e em alguns casos o desejo do intolerante de acabar ou aniquilar, como se ouve, “com a raça de alguém”. o racismo é isto! intolerar e desejar acabar com o outro, apenas pela cor da pele.


E o porquê vem não gostar de uma pessoa ou ter o ódio pela cor dela? Frank fala do processo de exclusão que ela sofre. “Temos questões estruturais e históricas que estão no meio disso tudo, seja por considerar o negro uma classe inferior, ou por acreditar que os brancos são privilegiados. O problema não está apenas na cor, por que se observar na mídia, muitos criminosos por conta do racismo, estão utilizando calça, bermuda ou camiseta da cor preta. Então o problema não é a cor em si, mas o que lhe foi construído a partir daquela cor e do sujeito que representa ela. Da mesma forma como são construídos aos pobres, gay’s, indígenas e outras minorias”.


E o ofendido? Como é o sentimento da pessoa que sofre o preconceito, rejeição e a exclusão de uma outra pessoa, sendo da torcida ou de um companheiro de trabalho e o sofrimento calado. “Imagine que você é convidado para tirar uma foto, e ao chegar no local, alguém lhe entrega a maquina de fotografar e pedem para você “tirar” a foto. Ao invés de sair ou aparecer na foto, você só observa os outros. O processo de exclusão racial é assim mesmo, ou seja, aquele que é não participa no mínimo sente-se rejeitado. No entanto, em alguns casos, além de ser colocado à margem, também é espancado, torturado e até morto. Muito sofrem quietos a violência simbólica, emocional e psicológica”.


No esporte tem crescido o numero de atos de racismo. Frank fala sobre o assunto e o processo de reeducação humana. “Sempre no racista há uma intensão. Já dizia o Jô Soares, “o palavrão está na intensão, e não na palavra”. Meu irmão se chama Reinaldo, mas 98% das pessoas o conhecem pelo apelido: “nego”. O chamamos assim desde de sempre e ele não se sente ofendido e não o fazemos como forma de exclusão. No entanto, se na intensão de ofendê-lo eu o chamo de “Nego sem vergonha”, isso é uma forma de agressão. No esporte como um local também de trabalho, é possível perceber momentos em que a intensão era de ofender e agredir, mesmo que seja o companheiro do próprio time, ou por outro que também é vítima de preconceito cultural, como o caso do Espanhol Gonzales ao insultar de forma racial o jogador Neymar. Então se combate o racismo, reconhecendo que somos racistas. Depois percebendo o que de racista tem no nosso comportamento e nos reeducando de forma a sermos mais humanos”


O recolhimento de ser racista é o primeiro passo do processo de acabar com o racismo. “Começamos percebendo que estamos sendo racistas. Sim, somos racistas. Estamos no meio da estrutura, e cometemos sem que percebamos. Veja só: como se chama aquele móvel que fica ao lado da cama, onde se coloca abajur, livros, óculos ou despertador? Quando alguém fala algo ruim ou negativo, sobre uma pessoa, você diz que ele está fazendo o que com a imagem? Quando um sujeito faz um trabalho que não ficou perfeito, por que fez de qualquer jeito, voce diz que o trabalho feito…? Se suas respostas foram “Criado mudo, denegrir e feito nas coxas”, seja bem vindo você acaba de ser preconceituoso. Por termos sido o ultimo país a libertar os escravos (ultimo sim por que ainda temos pessoas trabalhando em regime análogo a escravidão), trazemos em nossa bagagem história, diversos termos que remetem ao negro, porém como forma de menos valia, pejorativas.


A pergunta que muitos fazem, o racismo é uma doença? Frank explica não ser uma doença e sim uma desorganização psíquica. “Do ponto de vista do “agredido” não considera-se psicopatologia, no entanto, o motivo e a causa do que leva o sujeito à praticar comportamentos de agressão racial, tem aspectos potenciais de desorganização psíquica, até mesmo de transtornos mentais. Mas mesmo não sendo doença, a pratica racista tem cura, a medida em que o sujeito se percebe e permite-se reorganizar as crenças, verdades, pensamentos e modo de ver o outro”.