No quadro Craque da Bola do Resenha CM desta semana está pra lá de especial porque traz a história de um dos maiores goleadores do futsal nacional e ídolo da nação corinthiana. O Pivô do Corinthians Futsal Deives conta um pouco de sua história em uma entrevista exclusiva para o Resenha CM.
Natural de São Leopoldo no Rio Grande do Sul, Deives ,o Baixinho bom de bola apelido carinhoso que recebeu do narrador Daniel Pereira “Dandan”, iniciou nas categorias de base do Internacional. “Comecei com seis anos e fiz toda a minha categoria de base no Rio Grande do Sul até o Juvenil. Meus pais sempre me apoiaram e incentivaram a ser um atleta e eu sempre deixei muito claro que esse era o meu desejo de jogar e viver de futsal e graças a Deus deu tudo certo e estamos até hoje competindo pelas quadras do Brasil”.
Os pais foram os grandes incentivadores. “Sempre estiveram comigo, muitas vezes abriram mão da vida pessoal deles e me levavam nos jogos e treinos. Tenho sempre eles como referências e incentivadores”.
As dificuldades sempre foram superadas pelo baixinho bom de bola. “ Para quem está começando era pouca grana para se descolar e alimentar, dormir debaixo da arquibancada. Meus pais não tinham condições de pagar uma moradia pra mim, na pré temporada no Inter eu tinha que sair 4h:45min da manhã para o treino em Porto Alegre as 7h:30min, eu tinha que pegar um ônibus, pegar um metro e depois outro ônibus para chegar ao treino. Demorava quase duas horas para chegar, aí terminava o treino e eu tinha que dormir debaixo da arquibancada para o treino da tarde. Uma série de coisas que passei, mas que foi muito válido para dar mais valores nas coisas e para mim foi um aprendizado grande”.
Na oportunidade Deives fala das grandes inspirações no esporte. “Sempre teve alguns atletas que trabalhei e me chamaram bastante atenção, Vinicius que foi o capitão do mundial, Falcão, Neto, Lenisio pelo alto índice de competividade e mesmo estando no topo não baixaram o nível. E sempre costumo levar para minha carreira, mostrar uma constância e me manter nas melhores equipes e conquistando títulos”.
Deives fala das dificuldades para um atleta se profissionalizar. “ Hoje é uma geração um pouco diferente, eu acredito que hoje as coisas estão mais facilitadas para quem está chegando. Hoje recebemos um atleta mais novo com muito mais carinho que antigamente, antes era na paulada e na dor, não tinha muita conversa. Hoje quem está subindo, procuramos mostrar os caminhos para que eles não tenham tanto sofrimento como tivemos na nossa época para amadurecer. Todo atleta que sobe para o profissional procuramos ajuda-lo a crescer”.
O técnico da Ulbra Futsal, PC de Oliveira em um jogo contra o Internacional ao perceber o talento de Deives o convidou para jogar em sua equipe, a Ulbra era um dos melhores times do Brasil na época. “Era meu primeiro ano de juvenil, eu lembro que o treinador do Internacional da época era o Morruga que me chamou e disse que eu iria para o jogo contra a Ulbra. Foi uma surpresa, não estava acreditando. Chegou naquela semana e treinei somente com o adulto do Internacional. Eu achava que ia para completar o grupo, aí em um determinado momento da partida a Ulbra estava ganhando de 1 a 0 e o nosso preparador físico me chamou e disse você vai entrar, o coração ficou acelerado e neste tempo a Ulbra fez 2 a 0. Logo depois o professor Morruga me chamou e pensei comigo, vou tentar fazer o que eu posso aqui, naquele jogo dei uma assistência e fiz o outro gol e empatamos em 2 a 2 dentro do ginásio da Ulbra’.
E após o jogo iniciou a carreira vitoriosa de Deives. “Após aquela partida o professor Morruga não deixou mais eu entrar com o sub 20, somente com o adulto. E naquela semana o pessoal do Ulbra me ligou a pedido do PC de Oliveira dizendo que ele queria contar comigo no ano seguinte. Aí foi uma loucura porque era o sonho de qualquer moleque naquela época jogar na Ulbra. Sou muito grato ao PC por ter acreditado em mim naquele momento e ter me levado para um time onde ele poderia escolher qualquer atleta que certamente aceitaria e ele me escolheu. Meus pais se emocionaram muito com a notícia, a Ulbra era referência para tudo no futsal”.
Dois anos depois na Ulbra e artilheiro da Liga Nacional, Deives recebeu a proposta para jogar na Espanha na equipe Bernicarlo´ s FS. “Ali que me acendeu, ligou a chave e vi que daria muito certo. Na Espanha tive a oportunidade de jogar contra vários craques, dentre eles, Schumacher, Betão, Ciço, Vinicius. Foi uma experiência maravilhosa. Infelizmente a crise de 2008 afetou muito o mundo e o patrocinador máster da equipe era da construção civil e acabou sendo afetado diretamente e o time teve problemas de salários atrasados, a incerteza que iria acontecer, resolvi voltar para o Brasil, estava também comprando o meu primeiro apartamento, mas foi uma experiência muito boa”.
Deives teve grandes passagens pelas equipes de Tubarão, Santos, Intelli, Joinville, Carlos Barbosa, Benfica até chegar o Corinthians, onde se tornou um dos maiores artilheiros e ídolo da Fiel torcida. Dentre tantos títulos Deives foi campeão três vezes da Taça da Liga Futsal, em Portugal, além de um Sul-Americano de Clubes, Copa América pela Seleção Brasileira, três conquistas do Campeonato Brasileiro de Futsal e duas Supercopa de Futsal.
Já são sete temporadas e 123 gols pelo Corinthians, um dos grandes responsáveis título da Liga Nacional em 2016. “Me identifiquei com clube, uma história muito bonita que tenho aqui, tenho um imenso carinho, foram 13 finais e 12 títulos conquistados. Sou um cara privilegiado pois foram títulos com jogadores diferentes e eu estava em todos esses grupos. Muitos companheiros incríveis que ajudaram, até porque nunca fiz e faço nada sozinho. E um dos meus ídolos que está aqui em Campo Mourão que é o Leandro Caires, meu compadre e amigo pessoal, sou muito grato a ele, diferenciado dentro e fora das quadras, muitas vezes não aparece tanto no jogo mas me fez jogar muito. Agradeço minha bela trajetória do Corinthians a ele, ele teve uma participação mais de 50 por cento dos títulos que conquistamos”.
O baixinho bom de bola declarou durante a entrevista que possivelmente vai encerrar a carreira no Corinthians. “O plano é que isso aconteça, a não ser que algo aconteça diferente e eu entendo que deva acontecer a aposentadoria no Timão. Pessoal fala que vai ser algo bonito principalmente a relação de clube e atleta. Mas tem muito jogo e gols para acontecer com a camisa do Corinthians”.
E ser ídolo da Fiel torcida corinthiana? Deives responde. “Sem palavras, hoje tenho um carinho da torcida do Corinthians, que é um sonho de criança mesmo, hoje o reconhecimento é grande, vou ao Shopping e as pessoas param, tiram fotos, nas redes sociais, sócios dentro do clube. O torcedor não cobra resultado, ele cobra raça e entrega. E isso eu falo para todos que passam por aqui, no Corinthians não precisa jogar bonito, fazer firula, mas se jogar com entrega, raça e dedicação você vai ser lembrado para sempre. E historicamente os jogadores que passaram pelo clube são lembrados por isso. E isso nunca me faltou, posso ter jogado mal alguns jogos, mas a entrega nunca faltou”.
O narrador Daniel Pereira do Sportv apelidou carinhosamente Deives de baixinho bom de bola, ele fala sobre o assunto. “Teve uma vez que encontrei com o Dam Dam e o Marcelo Rodrigues, e justamente neste dia conversei com eles e agradeci a eles pela forma que me chamaram, hoje tem muitas pessoas me conhecem como Baixinho bom de bola e não como Deives. Eu levo isso com muito carinho porque é uma marca que fica para o atleta. Acredito que falta os personagens dentro do futsal, além do baixinho bom de bola, o Jacson Samurai, Rodrigo torpedo humano também foram criados pelo Dan Dan e faz muito sucesso. O apelido Baixinho bom de bola me ajudou muito financeiramente e também no esporte. Agregou valor e a marca ao atleta”.
Os dois gols na final da Liga Nacional em 2016 contra o Sorocaba foram os escolhidos como inesquecíveis para Deives. “Todos os gols são importantes, mas esses por serem na final da Liga foram os que marcaram e o gostinho especial por tudo que significou”.
Deives fala da evolução do futsal. “Evoluiu bastante, parte tática e física. Hoje em dia tem muito trabalho complementar que a gente faz, hoje o atleta que tiver mal fisicamente não consegue acompanhar o ritmo. O atleta se cobra muito, sempre bem alimentado, descansado, se entregando nos treinamentos para que dentro da quadra estarmos em boa performance”.
O Camisa 10 do Timão também vestiu a amarelinha da Seleção Brasileira. “Foi maravilhoso, todos os atletas tem que querer passar por essa experiência. Tive muitos ciclos na seleção, houve uma certa desorganização no passado, mas acredito que hoje está bem organizada pela CBF. Tive títulos pela seleção que marcaram bastante, principalmente a Copa América de 2017, foi um ano que marcou muito que fiquei muito feliz”.
Deives cita Leco como um dos mais difíceis de driblar. “Um cara muito chato, é meu amigão mas dentro da quadra competimos com muita lealdade, sempre dificuldades de enfrentar, é muito inteligente e que torcemos para sempre estar do nosso lado”.
No final da resenha Deives fala sobre o que o futsal representa em sua vida ‘O futsal é minha vida, desde os seis anos vivendo futsal todos os dias, sustentando minha família, foi como eu ganhei a vida. Estou preparando a vida para o pós carreira, mas sou grato a esse esporte, pela minha trajetória, quero muito encerrar com a cereja do bolo, com o título da Liga Nacional e quero muito retribuir o que o futsal me proporcionou até hoje, principalmente para quem está começando para que tenha uma carreira bonita também. Eu acredito que devo isso ao esporte principalmente para quem está começando”.
Deives montou uma seleção dos melhores que já jogaram com ele.
Goleiro Guita
Fixo Neto
Ala Falcao
Ala Vinicius
Pivô Deives
Técnico: Ferreti e PC de Oliveira
Fotos: Yuri Gomes/ Pedro Paulo Dias/ Instagram Deives