Hoje o quadro Fera do Esporte Mourãoense traz a história de um grande descobridor de talentos do futsal feminino de Campo Mourão. O Mourãoense professor Ismar Kath fala sobre o trabalho na modalidade que revelou atletas que se destacaram, craques do futsal nacional e até europeu. Resenha muito boa que você acompanha a partir de agora.
Por influência de professores Ismar se formou em Educação Física. “Sempre gostei de assistir e praticar esportes. Isso pesou bastante. Além da influência de vários profissionais da área que aprendi a admirar nos anos 80, como José Luiz Moreira (meu professor por 6 anos), Idevalci Maia, Paulo Gilmar Fuzzeto, entre outros”.
Como atleta Ismar jogou futsal, basquete e vôlei “Fui atleta de futebol de salão, basquete e vôlei no Colégio Afirmativo. Disputei vários Jogos Escolares, Jogos Abertos, Jogos Universitários, Olimpíadas Comerciários, Campeonatos Citadinos. Alguns títulos, com destaque para uma medalha de bronze nos Jogos Abertos de 1987, aqui em Campo Mourão”.
O início do futsal feminino aconteceu em 1996, no Colégio Jaelson Biácio de Piquirivaí. “Assim que comecei a trabalhar por lá, a Diretora Meire pediu para montar equipes para participar da fase municipal dos Jogos Escolares. Como não conhecia nenhum aluno ainda, resolvi montar equipes de futsal, através dos famosos “peneirões”. Para minha surpresa, conheci uma geração maravilhosa de meninas que jogavam futsal e fomos campeões da fase municipal, da fase regional e ficarmos entre as 10 melhores equipes do estado”.
E já no início do primeiro trabalho Ismar montou uma excelente equipe de futsal feminino. “Daquele time faziam parte, entre outras: Kátia Fiorini, Paula Bonilha, Franciele Del Canale, Juliana Godói, Sandra Nascimento, Noeli Alexandre, Caroline Sambati, Eva Simone, Evelin, Queila Barbosa. Era uma equipe que botava medo nos times de Campo Mourão”
Ismar fala como é treinar as meninas no futsal e as principais dificuldades. “Sempre senti uma facilidade maior treinando as meninas. Em geral, eram mais obedientes taticamente e mais fáceis de lidar do que os meninos. A dificuldade é a pequena quantidade de praticantes, em relação ao masculino. Em poucos casos, alguns pais que acreditavam que não era “esporte para menina”
O professor cita ainda uma desvalorização das conquistas. “Não sofri muito com desrespeito ou preconceito. Alguns poucos casos de desvalorização de conquistas, como se os títulos masculinos fossem mais importes. E, como disse anteriormente, alguns familiares que julgavam que futsal não era apropriado para as meninas.
E por falar em conquistas, títulos que marcaram a carreira. No Futebol de campo: Tricampeão dos Jogos Escolares (fase final) na categoria B (2005/2006/2007), Bicampeão dos Jogos Escolares (fase final) na categoria A (2007/2008). E no Futsal: Tricampeão dos Jogos Escolares (fase final) na categoria A (2009/2010/2011) Campeão das Olimpíadas Escolares Brasileiras (2010).
Dentre tantos títulos, o professor Ismar tem um em especial. “Creio que o mais marcante foi o título que iniciou toda a trajetória de conquistas do Colégio Estadual Unidade Polo: Jogos Escolares do Paraná em 2005, no futebol de campo, categoria B. Foi uma equipe que fez 36 gols e tomou apenas 5. Era um time muito acima da média. Também quero repartir o mérito dessa conquista com o professor Edno Coutinho, que trouxe a ideia de montarmos um time de futebol de campo, por causa da grande quantidade de meninas no colégio e também por ser o primeiro ano da modalidade nos Jogos Escolares do Paraná. Na história, temos os 3 primeiros títulos do futebol feminino dos Jogos Escolares do Paraná. Isso ninguém apagará jamais”
Além das conquistas um dos grandes diferenciais do Professor Ismar foi a revelação de atletas do futsal feminino. Dentre tantas craques estão Ellen Castro, Leticia Casaroti, : Beatriz (goleira no futsal e centroavante artilheira no futebol), Fernanda Macena, Kamila Paulovski, Sara Cristina (artilheira de final de Jogos Escolares), Andressa Tavares (Piu Piu), Jéssica Poyer (excelente lateral direita), Thais Suzuki e Regiane (zagueiras de porte físico invejável), Aline Garaluz (pegadora de pênaltis nas quadras e nos campos), Mayara Golon, Jacqueline Goulart (goleira e ótima lançadora de dardo), Caroline Carvalho (goleira da seleção paranaense de futsal) e sua irmã Jéssica (lateral direita), Hilda Marcelli, Andressa Samara; Graziele Martins (Jaelson Biácio, de Piquirivaí), Débora Gomes (Marrom), Tamires Vargas (jogou em várias equipes do país), Jéssica Will (de Ubiratã, também está na Itália), Jennifer, Flaviane (Mato Grosso), Laís Cristina, Aline Martins (Roncador), Amandinha (Janiópolis), Ana Paula (Peabiru), Karoline Martins, Juliana, Lettícia Maggioni, Lahys Deoclécio, Priscila Rosa, Liziê Sambati, Sharon Cristina
Ismar fala do sentimento em ter mudado a vida das meninas “Quando vejo algumas carreiras consolidadas no esporte e lembro da alegria de várias meninas ao representar sua escola, sua cidade, seu estado e até mesmo o seu país, vejo que todos os espinhos no caminho não foram nada, perto de tudo que foi realizado. Sem contar, algumas profissionais da minha área, e até mesmo de outras, que tive a alegria de acompanhar as trajetórias”.
Ellen Castro que já participou do quadro “Resenha com as Minas” foi uma das destaques revelações do professor Ismar. Ele lembra de como foi descobriu a atleta para o futsal. “Ellen foi um caso muito especial. Em 2004, estava montando uma equipe da categoria B no CE Unidade Polo. Numa certa tarde, recebi uma ligação do amigo professor Valdeir Ferro. Ele me disse pra ir até o Colégio Estadual, porque tinha uma menina que estava simplesmente humilhando os meninos nas suas aulas, jogando futsal, e que eu precisava ver. Fui imediatamente, e vi um show da Ellen. Ela começou a treinar conosco no Polo. Com muito custo, a convenci a ficar no Colégio até a fase final dos Jogos Escolares, em julho. Ficamos em 4º lugar na fase final em Curitiba. Pra minha sorte, ela permaneceu por lá até o final do Ensino Médio, e ela conquistou títulos de campeã paranaense em todos os 5 anos seguintes. Além disso, foi artilheira várias vezes. Hoje está na Itália. Outro detalhe sobre Ellen: certamente foi a única atleta a marcar 3 gols olímpicos em fase final de Jogos Escolares. Apesar de jogarmos em diversos campos de Curitiba, curiosamente os 3 gols foram no mesmo campo e na mesma trave, na Universidade Católica.
Leticia Casaroti também participou do Resenha com as Minas foi outro destaque revelada pelo professor Ismar. “Letícia começou a treinar em 2005, e teve grande destaque no futebol de campo, atuando como volante e lateral esquerda. Era uma atleta que passava muita segurança e com um poder de marcação impressionante. No futsal também teve destaque, mas no futebol era acima da média. Hoje está jogando futsal pelo Umuarama.
Na oportunidade o professor lembra de um fato marcante que aconteceu com uma atleta nos jogos escolares em 2006. Foi na fase municipal, jogamos contra a equipe de um colégio de Campo Mourão e vencemos com uma grande margem de gols. Creio que foram mais de 15 gols de diferença. Mesmo assim, uma das meninas da equipe adversária me chamou a atenção pela garra e pela determinação, mesmo numa situação totalmente adversa. Após o jogo, fui até o seu ônibus e pedi que a chamassem. Conversei com ela, parabenizando pela sua atuação pessoal. Aparentemente, ela não parecia estar levando muito a sério a situação, creio eu em virtude do resultado do jogo. Convidei a fazer parte da minha equipe no CE Unidade Polo. Ela ficou muito feliz e, no mesmo dia, fui conversar com seus pais. O nome dela é Lais Cristina. Foi campeão do Paraná naquele mesmo ano e em anos seguintes. Foi uma das meninas que foi representar o Brasil, no Chile. Hoje é uma excelente profissional da área de Educação Física. Essa é uma história que me faz ter a certeza de que todo o trabalho valeu a pena”
Durante a resenha o professor lembra do convite para a equipe mourãoense representar o país em uma competição no Chile. “Em 2007, havíamos sido tricampeões na categoria B, no futebol de campo. Como não havia esta modalidade nas Olimpíadas Escolares Brasileiras, teoricamente nossa trajetória naquele ano terminaria por ali. Depois de um tempo, recebo um telefonema do Ministério do Esporte, convidando nossa equipe para representar o Brasil nos Jogos Escolares Sulamericanos em La Serena, no Chile. Lembro até hoje da emoção das meninas, quando reuni toda a equipe e dei a notícia. Foi uma alegria que até hoje marca a vida de cada uma delas, tenho certeza”.
O professor fala sobre o futsal feminino na cidade. “O futsal feminino em Campo Mourão hoje carece de investimentos. Se todas as atletas que foram reveladas por aqui, estivessem representando a cidade, certamente teríamos uma das melhores equipes do Paraná.Eu e Ferruge trabalhamos juntos durante 3 anos de muitas conquistas no CE Unidade Polo, o que culminou em um tricampeonato da fase final dos Jogos Escolares e um título das Olimpíadas Escolares Brasileiras, em Goiânia. Foi uma parceria que deu muito certo. Foram anos em que o futsal feminino de Campo Mourão era conhecido nacionalmente”.
No final do resenha professor também analisa o futebol feminino de hoje em dia. “Apesar de algumas melhoras visíveis, creio que ainda busca o espaço que merece. Não é fácil ser atleta em um esporte ainda predominantemente masculino. Creio que a valorização precisa começar dentro da escola, do município. Tivemos tantas atletas reveladas em Campo Mourão e hoje estão representando outras cidades e clubes, inclusive na Europa.